Pressão. Esta é a arma a que a União Nacional dos Estudantes (UNE)
pretende recorrer para assegurar que o direito à meia entrada não seja
violado no Mundial de 2014. A minuta da Lei Geral da Copa, elaborada
pelo Ministério do Esporte em acordo com a Federação Internacional de
Futebol (Fifa), estabelece que é desta entidade a responsabilidade de
estipular o valor dos ingressos para as partidas do evento, o que
colocaria em risco o benefício conquistado por estudantes e por pessoas
com 60 anos ou mais.
A minuta da Lei Geral da Copa, em análise na Casa Civil, apresenta
regras para a organização do campeonato no Brasil em 2014, como
distribuição de imagens para emissoras de televisão e proteção de
produtos e marcas licenciados para o Mundial.
– Vamos nos preparar para nos mobilizar e defender nosso direito, se a
gente enxergar que ele está ameaçado – afirmou o recém empossado
presidente da UNE,
Daniel Iliescu, que assumiu o cargo domingo (17).
Em entrevista a Terra Magazine, Iliescu afirmou que, se for
necessário, a entidade organizará manifestações.
– Lembramos que a lei está em vigor e o evento da Fifa não pode ferir
uma lei conquistada e aprovada nos municípios e estados brasileiros.
Vamos nos relacionar ao poder público, com a pressão dos estudantes, de
modo a exigir que nosso direito seja garantido.
O novo presidente da União Nacional dos Estudantes preferiu a cautela ao
comentar o posicionamento do Ministério do Esporte – comandado por
Orlando Silva, um ex-presidente da UNE e filiado ao PCdoB, mesma legenda
de que Iliescu faz parte.
– A UNE tem que ir a audiências públicas com todos os atores envolvidos,
inclusive, com o Ministério do Esporte, para que a gente tenha
condições de dialogar, ouvir e entender qual é, de fato, a opinião. A
gente acabou de discutir sobre isso no congresso. Essa é a opinião da
UNE até aqui: a de pressionar e dialogar com todos os atores. Por
enquanto, não há desapontamento. Pelo contrário. A gente fica, de certa
forma, até orgulhoso mantendo essa relação de independência e
distanciamento necessário entre a UNE e o ministério.
Confira a entrevista.
Terra Magazine – Como a UNE pretende se posicionar em relação à
questão?
Daniel Iliescu – A meia entrada é uma conquista histórica do País,
da juventude e da UNE. Entendemos que é uma lei, que está em vigor em
estados e municípios. Inclusive, desde a década de 90 pra cá, foi um
novo ciclo destas leis de meia entrada no País inteiro.
Entendemos que todo e qualquer evento, internacional ou nacional, que
seja em território brasileiro, tem que respeitar essa conquista. É um
direito conquistado para que o estudante tenha acesso à cultura, ao
esporte, ao lazer, contribuindo para a educação do País. Nossa
interpretação é que a lei está em vigor e a Copa é um assunto muito
importante para o País, não só do ponto de vista do esporte, mas por
todo impacto social e econômico que gera. Então, é um assunto de
interesse nacional e a UNE também vai acompanhar. Nessa calourada, vamos
promover debates nas universidade. É um assunto que tem grande apelo
entre os estudantes, e vamos nos preparar para nos mobilizar e defender
nossos direitos, se a gente enxergar que ele está ameaçado.
Você falou em assegurar esse direito. O que a UNE pretende fazer?
O congresso da UNE terminou com uma resolução com muita força de que, no
final de agosto, a gente convocará uma grande jornada de lutas. Essa
jornada tem como centro a bandeira dos 10% do PIB (Produto Interno
Bruto) para educação. A UNE acabou de fazer um congresso que debateu uma
série de temas para o País, desde educação a direitos humanos,
economia, meio ambiente, saúde, cultura, esporte, sexualidade. A
conferência nacional vai abarcar um conjunto de discussões importantes. É
uma plataforma da UNE. Vamos apresentar essa plataforma aos estudantes
para discussão nas calouradas, para a sociedade e para o governo, para
os órgãos do poder público. Dentre isso, a gente vai estar discutindo a
MP (Medida Provisória) da Copa.
O esporte começa a ganhar cada vez mais centralidade na vida do
País, na agenda da sociedade, na agenda do Estado pela Copa e pelas
Olimpíadas. Achamos importante que toda sociedade civil organizada, de
acordo com sua perspectiva, contribua para que o Brasil tire o maior
saldo disso. Entendemos que o Brasil deve ser beneficiado. A sociedade
deve discutir sobre o legado da Copa e das Olimpíadas para que não sejam
meros eventos comerciais, mas que consigam contribuir para um projeto
de desenvolvimento do País, de inclusão da população e de geração de
empregos.
Mas em relação à meia entrada especificamente. Se realmente estiver
ameaçada para a Copa de 2014, a UNE pretente tomar qual providência?
Se amanhã a meia entrada estiver ameaçada, os estudantes vão se
mobilizar e a UNE vai organizar manifestações em torno dessa bandeira,
dentro também dessa reivindicação de mudanças na educação. Agora,
lembramos que a lei está em vigor e o evento da Fifa não pode ferir uma
lei conquistada e aprovada nos municípios e estados brasileiros. Vamos
nos relacionar ao poder público, com a pressão dos estudantes, de modo a
exigir que nosso direito seja garantido.
O ministro do Esporte, Orlando Silva, teve uma trajetória no
movimento estudantil, foi presidente da UNE. Como você vê o
posicionamento dele nesse caso?
A nota que eu vi do Ministério do Esporte fala dessa responsabilidade de
estados e municípios de legislação. E, de fato, isso confere. Mas vamos
pressionar todos os agentes do poder público envolvidos, tanto dos
estados e municípios quanto do próprio ministério, de que esse seja um
direito garantido (meia entrada). E também o Congresso Nacional, a quem
cabe a aprovação da legislação sobre a Copa. Vamos pressionar todos os
atores públicos, desde o Ministério dos Esportes até os municípios das
cidades-sede da Copa do Mundo.
Mas provoca em vocês algum tipo de desapontamento?
A UNE tem que ir a audiências públicas com todos os atores envolvidos,
inclusive, com o Ministério do Esporte, para que a gente tenha condições
de dialogar, ouvir e entender qual é de fato a opinião. A gente acabou
de discutir sobre isso no congresso da UNE. Essa é a opinião da UNE até
aqui: a de pressionar e dialogar com todos os atores. Por enquanto, não
há desapontamento. Pelo contrário. A gente fica, de certa forma, até
orgulhoso mantendo essa relação de independência e distanciamento
necessário entre a UNE e o ministério.
Antes de eu assumir a
presidência da UNE, eu me lembro de companheiros orgulhosos com a
conquista das Olimpíadas no Brasil porque isso é o resultado da ação e
do trabalho coordenado de muitas figuras, entre elas, o ex-presidente
Lula e o ministro Orlando.
Não existe um desapontamento. Existe uma expectativa de que o trabalho
seja muito bem feito, de que todos os atores do País somem esforços para
que a gente faça uma Copa inesquecível, que o Brasil conquiste o título
e que o País consiga ter legado disso, que consiga ter efeitos na
economia e na condição social de sua população. Investimentos em
educação, em aparelhos culturais, democratizar o acesso ao esporte no
País.
Desapontamento, felicitações só haverá ao final desse
processo. Só em 2014, quando a Copa estiver concluída e esse caminho
para que o Brasil se desenvolva também a partir do esporte estiver
montado. Aí, caberá um balanço sobre desapontamento, alegria por parte
dos atores envolvidos. Nossa expectativa é que o trabalho seja bem
feito.