O Brasil tem o mais baixo valor de
encargos trabalhistas entre 34 países pesquisados pelo Departamento
de Estatística do Trabalho dos EUA (BLS, sigla em inglês). Em
dólares, a média brasileira é de US$ 2,70 a hora, enquanto a média
das outras 33 nações avaliadas é de US$ 5,80 por hora.
Essa
é a conclusão mais evidente trazida por um texto publicado pelo
jornal “O Estado de S. Paulo” neste final de semana. Porém,
essa informação, a mais clara de toda a reportagem, vinha apenas no
penúltimo parágrafo.
Estranhamente, o título deste texto
era “Brasil é o número 1 em encargos trabalhistas”. Mas o
texto não consegue defender a manchete, apesar do esforço.
O
Estadão afirma que, segundo compilação feita pela Fiesp a partir
de dados do BLS, o peso percentual dos “custos com mão de obra
na indústria de transformação brasileira” é de 32,4%, contra
a média de 21,4% dos demais.
Não há maiores detalhes sobre
quais são esses custos, portanto não há dados amplos sobre qual a
base de comparação usada pela Fiesp
Mas, se esses números
estiverem corretos, a diferença brasileira, em dólares, para os
outros países, fica ainda mais espantosa. Imaginem, se a nossa carga
é percentualmente maior, mas em valores monetários é tão menor,
os proventos dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiras são muito
baixos em comparação com a média dos países
industrializados.
Esse fato já conhecíamos, e insistimos
nessa informação há muito tempo, como forma de desconstruir o
falso discurso conservador de que o trabalho no Brasil é caro e tira
competitividade do País. Só que não é sempre que a própria Fiesp
deixa um dado como esse à mostra.
Cabe mais reparos ao texto
do Estadão. O jornal elenca como “encargos” valores que,
na verdade, são complemento salarial. O FGTS, a Previdência Pública
e o 13º, citados na reportagem, retornam ao trabalhador – e ao
mercado – como complemento salarial, na forma de poupança. Nem de
longe são encargos.
Em estudo preparado pela subseção do
Dieese na CUT Nacional, tomando como base dados do mesmo Departamento
de Estatística dos EUA, referentes a 2008, a diferença do custo de
mão de obra é ainda mais gritante.
Enquanto na Alemanha é
de U$36,07 a hora e nos Estados Unidos de US$ 25, 65, no Brasil a mão
de obra/hora é de US$ 6,93 – o recorte do Dieese não mistura alhos
com bugalhos e concentra-se na questão salário, daí a diferença
e, também, uma chave para compreender a própria contradição dos
números divulgados pela Fiesp.
A conjunção desses fatores e
dados só reforça a impressão de que os salários no Brasil ainda
são baixos. Por serem reduzidos, acabam por exigir complementos como
o FGTS e o 13º e, ainda assim, a média em dólar perde de longe
para os países que a Fiesp usa como referência.
E tudo a
despeito de o real estar sobrevalorizado. Nem assim o valor do
trabalho no Brasil chega a se aproximar da média internacional
segundo o olhar BLS/Fiesp.
Sem esquecer de um dado
fundamental, que precisa ser alardeado até que a elite econômica se
convença de que há muito por fazer neste País e que não é
retirando do trabalhador que chegaremos no ponto que queremos e
desejamos: o índice GINI, usado para medir a concentração de
renda, no Brasil atinge 0,56, perdendo apenas para Haiti, Bolívia e
Tailândia num grupo de 14 países pesquisados. O GINI, utilizado
pela ONU, é tão mais representativo de concentração de renda
quanto mais próximo de um.
Se a Fiesp quer cortar custos de
seus associados botando o trabalhador como réu, enfrentará
novamente nossa resistência.