Daqui
pouco mais de 30 dias o governo deverá apresentar propostas à pauta
de reivindicação das trabalhadoras rurais de todo o Brasil. “Esses
pontos fazem parte do nosso projeto político (…) Esse é um
momento de mudanças e aprofundamento em políticas públicas”,
afirmou a Secretária de Política para as Mulheres, Iriny Lopes. Até
lá, serão realizadas reuniões entre o conjunto dos ministérios
para avaliar as reivindicações e estudar as condições do governo
para contemplar a pauta.
Os mais de 150 pontos reivindicados
pelas trabalhadoras rurais compõem os eixos de luta da Marcha das
Margaridas de 2011. Eles foram entregues ao governo em solenidade
realizada na tarde desta quarta-feira (13), no Palácio do Planalto,
com a participação do ministro do Desenvolvimento Agrário, Afonso
Florence; da ministra do meio Meio Ambiente, Izabella Teixeira; da
ministra chefe de estado da Secretaria de Políticas de Promoção da
Igualdade Racial, Luiza Bairros; da Secretária de Política para as
Mulheres, além de representante do ministro do Desenvolvimento
Social.
O
objetivo do encontro foi de abrir diálogo com os líderes
governamentais para, de fato, implementar as reivindicações
apontadas na pauta de reivindicações. Segundo a reprentante da CUT
na Confederação Nacional de Trabalhadores em Agricultura (Contag) e
secretária de Meio Ambiente da CUT, Carmem Foro, a lista de
reivindicações apresenta “o modelo de desenvolvimento pensado
pelas mulheres para o Brasil e critica o modelo de desenvolvimento em
vigor”. “Grandes projetos de hidrelétricas, por exemplo, sem
planejamento social, facilitam o aparecimento da prostituição
infantil’, afirma.
Para as mulheres trabalhadoras rurais, a
expectativa de aceitação e implementação da pauta cresce com a
condição de uma mulher na presidência do Brasil. Maria do Rosário
Fernandes, assentada do Rio Juma, no Amazonas, e secretária de
Mulheres da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no estado, é
uma das pessoas que acredita no avanço. “A gente acredita muito
neste mandato, acreditamos muito na presidenta Dilma e, acima de
tudo, acreditamos na nossa pauta”. “Não se trata apenas de
sensibilidade, se trata de compromisso político”, alerta Carmem
Foro.
A defesa da pauta da Marcha das Margaridas é feita não
apenas para beneficiar as trabalhadoras rurais, mas,
consequentemente, toda a sociedade. “O trabalhador rural, uma vez
que vive bem em sua propriedade, que produz, que vive no processo
coletivo de construção na zona rural, está contribuindo para que
tenha alimentação de qualidade na cidade, contribuindo para que não
haja o inchaço das periferias das capitais”, explica Fátima
Maciel, representante da Federação dos Trabalhadores Rurais do
Acre.
Para a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT, Rosane
da Silva, “a pauta das trabalhadoras rurais se confunde com a pauta
das mulheres da CUT”. “Um dos pontos reivindicados na Marcha das
Margaridas é a concessão de creches, uma luta nossa também. Além
disso, temos que destacar que não é possível fazer a reforma
agrária sema atualização dos índices de produtividade das terras
e a regularização fundiária”, avalia.
Atualmente no
Brasil, apenas 24% das terras está nas mãos da agricultura
familiar. Além disso, a cada quatro trabalhadores rurais, um está
na linha da miséria. “O fim da miséria passa, obrigatoriamente,
pelas terras do Brasil”, analisa Carmem Foro.
Marcha
das Margaridas – Neste
ano, a Marcha das Margaridas trará para Brasília 100 mil mulheres.
O evento, que acontece nos dias 16 e 17 de agosto, é uma ação
estratégica das mulheres do campo e da floresta para conquistar
visibilidade, reconhecimento social e político e cidadania plena.
A
agenda política da quarta edição da Marcha tem como lema o
desenvolvimento sustentável com justiça, autonomia, igualdade e
liberdade. O movimento se apóia em sete eixos principais:
biodiversidade e democratização dos recursos naturais – bens
comuns; terra, água e agroecologia; soberania e segurança alimentar
e nutricional; autonomia econômica, trabalho, emprego e renda; saúde
pública e direitos reprodutivos; educação não sexista,
sexualidade e violência; e democracia, poder e participação
política.
“Nós temos a absoluta certeza de que a pobreza
no nosso país tem sexo, tem a cara feminina, tem cor – são negras
as pessoas mais pobres, e tem lugar – estão no campo e na periferia
das cidades. Portanto, nossa pauta não tem só apelo, mas também
legitimidade”, afirma Carmem Foro.