A economista da Subseção Dieese da CUT, Patrícia
Pelatieri, contestou nesta quinta-feira, dia 30, a recente afirmação
da diretoria do Banco Central de que o salário é “um risco
muito importante para a inflação” e que, portanto, seria
necessário arrefecer as campanhas salariais do segundo semestre.
Diz textualmente o relatório do BC: “um aspecto crucial
em ciclos como o atual é a possibilidade de que o aquecimento no
mercado de trabalho leve à concessão de aumentos reais dos salários
em níveis não compatíveis com o crescimento da
produtividade”.
Patrícia, que particou da reunião da
Direção Nacional da CUT, discordou dessa visão expressa na
“opinião hegemônica divulgada nos meios de comunicação e de
analistas, de que existe uma inflação de demanda, causada
principalmente pelo aumento dos salários acima da inflação”.
“Eles querem combater a inflação com a compressão da
demanda, via redução dos salários. Assim, buscam tirar
consumidores do mercado. Mas não há nenhum indício de inflação
de demanda. O que existe é um aumento dos preços das commodities,
que vêm sendo usadas para especulação no mercado internacional”,
explicou.
Conforme a economista, o que é fato, é a
existência de uma “defasagem gigantesca entre o que foram os
ganhos de produtividade e o que foram os ganhos salariais, em torno
de 60% na última década”.
Ou seja, se não houver
ganhos reais acima do aumento da produtividade, “significa que
não haverá nenhuma mudança, significa consolidar este parâmetro
concentrador de riqueza. Ganhos salariais têm de ser acima da
produtividade, pois temos uma das piores distribuições de renda do
mundo”, disse Patricia.
Os dados comprovam que salário
não é o vilão.
Reforma política já – O presidente
nacional da CUT, Artur Henrique, também citou a necessidade do
governo ter maior agilidade e poder de decisão para não ser
atropelado pelo parlamento. “Estamos discutindo com a
Secretaria-Geral da Presidência da República a terceirização,
enquanto o projeto do deputado Sandro Mabel, que amplia a prática,
já foi aprovado na Comissão de Trabalho da Câmara
Federal”.
Diante disso, Artur indicou a necessidade da
reforma política. “Sem essa mudança, estamos cada vez mais
fadados a ter gente do agronegócio, do capital, de quem fica na
Avenida Paulista, fazendo a lista dos candidatos que serão apoiados
e eleitos pelo poder econômico. E, diante desse cenário, a chamada
base aliada demonstra que não é tão aliada porque defende
interesses que muitas vezes não são os nossos e, em outras, sequer
do governo”, acrescentou.
A ausência da reforma política
afeta até mesmo o Judiciário, onde avança cada vez mais a
judicialização da política e a politização do Judiciário.
“Vemos vários casos de ações no STF (Supremo Tribunal
Federal) para acabar com o que o Congresso acabou de decidir. E como
o parlamento não tem tido competência e nem agilidade para voltar
os artigos da Constituição não regulamentados, o TST (Tribunal
Superior do Trabalho) vai legislando”, avaliou.
Combate
ao modelo derrotado – “As velhas normas do FMI e do Banco
Mundial não servem. Na Grécia, eles querem pegar umas ilhas, a
Acrópole, e pagar a dívida. Chegamos ao cúmulo de ter propostas
deste tipo discutidas. Por isso, os trabalhadores gregos responderam
com uma greve de 48 horas”, afirmou o dirigente da CUT.
O
desmonte do Estado, da privatização e do arrocho, alertou o
presidente da CUT, tem levado a uma sucessão de derrotas dos
governos na Europa, que vêm repetindo os mesmos descaminhos que
conduziram à crise de 2008, afundando seus países na
miséria.
Diferente disso, lembrou, é preciso construir um
projeto nacional de desenvolvimento com base nas nossas
potencialidades. Por isso, frisou, governos progressistas da América
Latina têm buscado formar um bloco contra-hegemônico e construir,
conjuntamente, experiências como a da Alba, da Unasul e do Mercosul,
embora ainda não tenham conseguido conformar um modelo.
Daí,
a importância da reflexão e da ação sindical para pressionar por
avanços, fazendo o necessário “enfrentamento com a direita e
com parte da mídia, que tentam impor a agenda derrotada nas eleições
por dentro do governo Dilma”, frisou Artur.