Depois de oito anos juntos, o
comerciante Luiz André Moresi e o cabeleireiro José Sérgio Souza
conquistaram o direito de serem legalmente reconhecidos como um
casal, com os mesmos direitos dos matrimônios
heterossexuais.
Primeiro casal homossexual brasileiro a ter
sua união civil reconhecida juridicamente depois de o Supremo
Tribunal Federal (STF) admitir que as uniões estáveis entre pessoas
do mesmo sexo formam entidades familiares, Luiz André e José Sérgio
receberam nesta terça-feira (28), Dia Mundial do Orgulho LGBT, a
certidão de casamento civil.
A cerimônia ocorreu em um
cartório de Jacareí, no interior de São Paulo. Segundo Luiz André,
foi uma reunião simples, mas bonita, da qual participaram, além de
parentes e amigos, militantes do movimento de lésbicas, gays,
bissexuais, travestis e transexuais (LGBT).
Luiz André e José
Sérgio foram um dos primeiros casais homossexuais do país a obter
do Estado a certidão de união estável e haviam protocolado o
pedido de conversão da união em casamento civil no último dia 6. A
solicitação foi deferida na segunda-feira (27), pelo juiz da 2ª
Vara de Família e Sucessões, Fernando Henrique Pinto.
Por
telefone, Luiz André disse à Agência Brasil que a autorização
para que ele e José Sérgio se casassem é resultado do empenho e da
luta do movimento LGBT e servirá de precedente no julgamento de
outros pedidos de conversão protocolados por outros casais
homossexuais. Em grupos de discussão de que participa na internet,
Luiz André compartilhou a cópia da decisão do juiz para que os
interessados a utilizem como forma de “encorajar” outros
magistrados a seguirem o mesmo exemplo.
“Ter a certidão
de casamento é muito importante para nós. Com ela, passamos a ser
reconhecidos pelo Estado como casados, e não mais como solteiros.
Com a união estável todos os direitos já estavam praticamente
assegurados, com exceção de se casar, mas como vivíamos como uma
família, queríamos muito oficializar nossa situação. Agora, somos
a família Souza Moresi”, declarou Luiz André.
Segundo a
presidenta da Comissão da Diversidade Sexual do Conselho Federal da
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e vice-presidenta do Instituto
Brasileiro de Direito de Família (Ibdfam), Maria Berenice Dias, o
reconhecimento da união estável deveria bastar para que os casais
homossexuais tivessem os mesmos direitos dos casais heterossexuais.
Muitos juízes, porém, tinham dificuldade de reconhecer a união
entre pessoas do mesmo sexo. Resistência que, para ela, deve
diminuir com a posse da certidão de casamento.
“Alguns
juízes não reconheciam a união estável como tal e o direito [dos
parceiros homossexuais] a alguns benefícios. No país todo eu
encontrei um único caso em que o juiz decidiu pelo direito à pensão
alimentícia em caso de separação. E o fundamento era sempre que o
casal não formava uma união estável”, afirmou a especialista
em direito homoafetivo.
Para a advogada, além de servir para
reduzir o preconceito, a admissão da conversão das uniões estáveis
em casamentos civis reforçará entre os próprios homossexuais a
consciência de seus direitos. “Como o Estado já dizia que a
união estável tem o mesmo valor que uma família, o efeito de poder
formalizar a união [casando-se] é mais significativo para os
homossexuais que passarão a ter a consciência de igualdade no
acesso a tudo que um casal heterossexual tem direito.”
Maria
Berenice entende que, uma vez admitida a conversão da união
estável, não há empecilho para que os casais homossexuais comecem
a procurar pela formalização da união civil. “Nada justifica
que as pessoas tenham que continuar usando deste subterfúgio de
primeiro ter que registrar um contrato de união estável para depois
pedir para convertê-lo em casamento. Será muito mais fácil admitir
o acesso direto ao casamento civil homossexual”, afirmou Maria
Berenice, lembrando que nunca houve, na lei, qualquer impedimento ao
casamento entre pessoas do mesmo sexo.