ARTIGO: Professor da USP comenta por que ricos pagam pouco imposto no Brasil

Há alguns dias, uma pesquisa veio
mostrar o que todos aqueles que realmente se preocupam com reforma
tributária no Brasil sabem: os ricos pagam pouco imposto.

Quem
recebe R$ 3.300 por mês, leva para casa, descontados Imposto de
Renda e Previdência, 84% do seu salário. Já alguém que ganha R$
26.600 por mês, leva 74%.

Um profissional holandês, por
exemplo, pode contar apenas com 55% de seu salário, e mesmo um
norte-americano traz para casa menos que um brasileiro: 70%.

Ao
mesmo tempo em que descobríamos a vida tranquila dos ricos
brasileiros, chega a notícia de que a quantidade de milionários no
Brasil aumentou 5,9% em 2010, atingindo a marca de 115,4 mil pessoas
com fortuna de, ao menos, US$ 1 milhão.

O que não deveria
nos surpreender. Afinal, vivemos em um país onde o processo de
concentração de renda está tão institucionalizado que as classes
mais abastadas têm um sistema de defesa de seus rendimentos sem par
em outros países industrializados.

Dentro de alguns anos, a
chamada nova classe média descobrirá que não conseguirá mais
continuar sua ascensão social. Entre outras coisas, ela tomará
consciência de como seu orçamento é brutalmente corroído por
despesas com educação e saúde.

Um Estado preocupado com seu
povo taxaria os ricos e as grandes fortunas a fim de ter dinheiro
suficiente para criar um verdadeiro sistema público de educação e
saúde.

Por que não criar, por exemplo, um imposto sobre
grandes fortunas vinculado exclusivamente à educação? Isto
permitiria que essa nova classe média continuasse sua ascensão
social.

Tal ascensão seria ainda mais facilitada se a carga
tributária brasileira parasse de privilegiar o consumo, e focasse a
renda. Uma carga focada no consumo, ou seja, embutida em produtos, é
mais sentida por quem ganha menos.

Há pouco, um estudo
mostrou como o 0,1% mais bem pago no Reino Unido recebia, em 1979,
1,3% dos salários. Hoje, recebe 5% e, em 2030, deve receber
14%.

Costuma-se dizer que uma das maiores astúcias do Diabo é
nos convencer de que ele não existe. Uma das maiores astúcias do
discurso conservador é nos convencer, diante de dados dessa
natureza, de que conflito de classe é um delírio de esquerdista
centenário.

Mesmo que vejamos um processo brutal de
concentração de renda institucionalizado e intocado por qualquer
partido que esteja no poder, mesmo que vejamos a tendência de
espoliação dos recursos de países industrializados por camadas
mais ricas da população, tudo deve ser um complô dos incompetentes
contra aqueles que bravamente venceram na vida graças apenas a seu
entusiasmo e capacidade visionária, não é mesmo?

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