Trabalhadores com carteira assinada são os que mais sofrem assédio moral

A pressão por produtividade é uns
dos fatores determinantes de muitos transtornos à saúde dos
trabalhadores, entre eles o assédio moral. Pesquisa realizada de
janeiro de 2005 a janeiro de 2011, sob a coordenação da médica do
trabalho Margarida Barreto, comprovou que os trabalhadores com
carteira assinada são os que mais sofrem assédio moral em seus
locais de trabalho, representando 40% do universo pesquisado.

Os
servidores públicos, contratados através da Consolidação das Leis
Trabalhistas (CLT), correspondem a 34%; estagiários e pessoas em
experiência, 4,5%; contratados por tempo de serviço, 3,5%;
temporários, 1%; e outros,17%.

– Na maioria dos casos, os
mais assediados são aqueles com vínculo formal (registrados ou por
CLT). A pressão é maior porque eles representam grandes custos para
a empresa. E, hoje em dia, o que as organizações querem é menos
custos e mais produtividade – diz a médica.

Quanto aos
informais, temporários e estagiários, como não têm vínculo com a
empresa, por não existir um contrato formal, são menos pressionados
a apresentar resultados.

A especialista explica que o assédio
moral se caracteriza por atitudes e condutas negativas dos chefes em
relação a seus subordinados, em que predominam as desqualificações
e desmoralizações, constrangimentos e humilhações durante toda a
jornada de trabalho, acarretando prejuízos práticos e emocionais
para os trabalhadores e para a organização do trabalho.

Ainda
de acordo com a pesquisa, 68% dos casos de assédio ocorrem em
grandes empresas privadas, de caráter nacional ou internacional. O
sexo masculino é o que mais pratica o assédio em relação aos seus
funcionários, com 46,5%, enquanto que as mulheres, na posição de
chefia, chegam a 31%. Os entrevistados também responderam que a
atividade é contínua, ou seja, elas acontecem várias vezes por
semana (68,3%). Apenas 19,5% disseram que a prática é realizada uma
vez na semana e 12,2%, uma vez ao mês.

– Para alguns, o
assédio só é caracterizado quando existe algum transtorno mental
ou psicossomático resultante. A comprovação é mais difícil. O
assediado deveria fazer um diário em ordem cronológica das
situações de assédio e anexar e-mails, cartas, bilhetes, boletins
de ocorrência, avaliações de desempenho, processos movidos contra
o assediado, gravações e filmagens, entre outros. Mas nem sempre
estas provas existem e nem por isso se pode duvidar da palavra do
assediado – aconselha a psicóloga Débora Miriam Raab Glina,
integrante da Comissão Técnica de Saúde Mental e Trabalho da
Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt).

Outro
indicador no estudo aponta que 14% dos entrevistados já foram
vítimas de assédio sexual. Segundo Margarida, é comum nos casos de
assédio sexual o uso de palavras obscenas e degradantes em 65% dos
casos.

Assédio moral pode levar à morte – Ser
humilhado constitui uma experiência que interfere nos sentimentos e
emoções, altera o comportamento, agrava doenças pré-existentes ou
desencadeia novas doenças, podendo, inclusive, culminar com a morte
física da vítima. Talvez por isso, o trabalhador que se encontra
desestabilizado emocionalmente, devido ao assédio moral, passa a
ouvir “conselhos”, tais como que o melhor a fazer é pedir
demissão e mudar de empresa.

– O assediado pode procurar
ajuda nos centros de referência em saúde do trabalhador, nos
sindicatos e no Ministério Público, por exemplo – acrescenta
Débora.

Das consequências à saúde, temos o estado de
ansiedade, angústia, transtornos leves que vão desde a tristeza, à
depressão e à síndrome de burnout até à síndrome do pânico ou
mesmo ideações suicidas e suicídio.

– É dever do
empregador manter as condições de segurança e higiene e zelar para
que o local de trabalho não se transforme em local perigoso à vida
e a saúde dos trabalhadores e trabalhadoras – completa Margarida,
ressaltando que a família continua sendo o espaço de confiança
para esse trabalhador, que divide com os parentes os problemas
enfrentados no trabalho.

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