Bancários questionam prêmio do Itaú de banco global mais sustentável

Os bancários receberam a notícia com surpresa e
quase não acreditaram. O Itaú Unibanco foi eleito o banco mais
sustentável do mundo no prêmio “2011 FT/IFC Sustainable
Finance Awards”, em Londres, concedido na última quinta-feira,
dia 16, pelo jornal britânico Financial Times e pelo IFC
(International Finance Corporation), braço financeiro do Banco
Mundial.

“Isso só pode ser uma farsa. No cotidiano das
agências bancárias a realidade é outra. Convivemos diariamente com
demissões, assédio moral e pressão para o cumprimento de metas”,
denuncia Jair Alves dos Santos, um dos coordenadores da Comissão de
Organização dos Empregados (COE) do Itaú Unibanco, órgão que
assessora a Contraf-CUT nas negociações com o banco.

O
dirigente sindical questiona os critérios utilizados para a
concessão do prêmio. “Gostaríamos de saber qual o motivo para
se considerar um banco sustentável. Tal valor deveria começar
levando em consideração as condições de trabalho de seus
funcionários”, avalia Jair.

Para Daniel Reis,
funcionário do banco e diretor executivo do Sindicato dos Bancários
de São Paulo, a sustentabilidade está além da venda.
“Sustentabilidade deveria compreender também responsabilidade
social, coisa que o banco não tem”, avalia.

Setúbal
ignora funcionários –
Em entrevista ao jornal O Estado de
S.Paulo, o presidente do Itaú, Roberto Setúbal, explicou sobre o
que faz um banco ser sustentável. O detalhe é que descartou a
importância dos funcionários. “A filosofia de sustentabilidade
está no negócio. O banco procura ter uma relação sustentável com
o cliente, o que significa ser transparente com o que é oferecido”,
disse.

Setúbal foi indagado ainda sobre como na prática o
banco é sustentável. Novamente o foco esteve sobre as vendas. “No
ano passado, por exemplo, redesenhamos o produto seguro de vida. Com
a mudança, passamos a vender menos seguros, porque a oferta agora é
feita apenas para quem de fato está interessado no produto. Não há
mais venda empurrada”, afirmou.

Para Jair, o cenário
traçado pelo presidente do banco não corresponde à verdade. “As
vendas casadas continuam a todo vapor. É comum o cliente adquirir
títulos de capitalização e seguros, por exemplo, quando pede um
empréstimo. Muitas vezes nem sabe que isso está acontecendo”,
denunciou.

Onda de demissões – Conforme reportagem da
Exame Finanças, na edição do dia 15, o Itaú Unibanco iniciou um
duro programa de corte de custos e reorganização interna para
atingir o grau de eficiência que seus acionistas esperam. Durante os
meses de abril e maio, de acordo com a revista, cerca de 350
profissionais deixaram o banco, a maioria deles pertencente à área
de crédito ao consumidor, que engloba a financeira e o segmento de
cartões de crédito. O setor perdeu boa parte dos gerentes e
superintendentes, além de três diretores. “Todo mundo se
pergunta qual área será a próxima a demitir, o clima está
péssimo, ninguém quer falar com o RH”, desabafou um
funcionário.

Promessa não cumprida – Apesar de ter
declarado publicamente na época da fusão entre Itaú e Unibanco, em
2008, que não haveria demissões, Setúbal não cumpriu a promessa.
A Contraf-CUT vêm denunciando e fazendo manifestações contra as
demissões. De acordo com Jair, os bancários propuseram, em 2009, ao
banco a criação da Central de Realocação, “que só funcionou
por pouco tempo e logo foi fechada”.

Desde o começo do
ano, nova onda de demissões começou, lamentou o dirigente sindical.
“Estamos em negociação com o banco e há cerca de 20 dias
tivemos uma reunião com o Zeca Rudge (vice-presidente executivo,
responsável pelo recém-criado comitê de eficiência, que gerencia
as mudanças). Mas até agora não tivemos nenhum ação efetiva para
garantir o emprego”.

O dirigente sindical
manda um recado para a direção do banco. “Não vamos aceitar
bola nas costas. Vamos responder à altura na defesa dos direitos dos
trabalhadores”, concluiu Jair.

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