O Comitê de Política Monetária (Copom) perdeu
uma chance de reduzir os juros na reunião encerrada nesta
quarta-feira, 8, na avaliação da Contraf-CUT. A decisão de elevar
a taxa Selic em 0,25%, passando para 12,25% ao ano ano, vai na
contramão da direção apontada pelos indicadores econômicos.
Grande justificativa do processo de elevação da Selic (que
já acumula alta de 1,5% em 2011), a inflação mostrou sinais de
arrefecimento nos principais índices em maio e a decisão repassará
mais R$ 5 bilhões dos cofres da nação para os rentistas.
“Com
o atual modelo de definição das taxas de juros, em que o Banco
Central ouve apenas o mercado financeiro, a nova alta da taxa Selic
já era de conhecimento da sociedade desde o final de semana. Parece
a crônica de uma morte anunciada da obra de Gabriel Garcia
Marquez”, afirma Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT.
“Todos já conhecem o final: essa transferência de renda
concentra riqueza, freia o desenvolvimento e empobrece a nação”,
sustenta.
“O BC precisa ter a coragem de enfrentar o
sistema financeiro e em vez de se curvar aos seus interesses”,
defende o dirigente sindical. “Além das metas de inflação, o
BC deveria fixar também metas sociais, como o aumento do emprego e
da renda dos trabalhadores e a redução das desigualdades sociais do
país. Para isso, é fundamental ampliar o Conselho Monetário
Nacional, de forma a contemplar a participação da sociedade civil
organizada na discussão dos rumos da economia”, destaca.
A
taxa de inflação caiu acentuadamente em maio, segundo apontam os
índices calculados pelo IBGE (IPCA e INPC) e Dieese. O IPCA baixou
de 0,77% em abril para 0,47% no mês passado e o INPC foi de 0,72%
para 0,57% no mesmo período. Já o ICV-Dieese apontou redução
ainda mais acentuada entre abril e maio: de 0,80% para 0,04%. A razão
dessa queda, na avaliação de ambos os institutos, é que está
havendo uma reacomodação dos preços após surtos sazonais,
sobretudo nos produtos agrícolas.
Mesmo os analistas do
mercado financeiro ouvidos pela pesquisa Focus, do Banco Central,
reduziram suas projeções para a inflação no ano pela quinta
semana seguida, chegando a 6,22%. Há quatro semanas, o número
previsto era de 6,33%.
“A alta da inflação é um
problema e deve ser combatida, pois penaliza os mais pobres. Mas, na
presente situação, o remédio dos juros está causando problemas
tão ou mais terríveis. Para cada ponto percentual de aumento nos
juros, ocorre um aumento de cerca de R$ 19 bilhões na dívida
pública, prejudicando a todos. Além disso, os juros altos
pressionam o câmbio, reduzindo o valor das exportações brasileiras
e prejudicando nossa indústria”, resume.
Relatório do
Banco Central informa ainda que o total destinado pelo governo
federal para o pagamento da dívida pública nos mesmos quatro meses
foi de R$ 78,6 bi, equivalente a 6,2% do PIB. O valor é equivalente
aos R$ 80 bilhões destinados pelo governo para financiar pelos
próximos quatro anos o programa Brasil sem Miséria, principal
bandeira social da atual administração.
“É preciso
acabar com esse nefasto programa de transferência de renda da
sociedade brasileira para os rentistas detentores de títulos da
dívida pública. Quebrar essa lógica é uma obrigação do governo
eleito pelas forças populares e democráticas”, diz
Cordeiro.
Segundo dados do Tesouro Nacional, do total da
dívida pública brasileira, 30,2% estão diretamente nas mãos dos
bancos e 37,7% em posse dos fundos de investimento, a maioria dos
quais controlados pelas instituições financeiras. Outros 14,4%
estão em poder dos fundos de pensão e 11,6% de não-residentes no
país.
“O Copom trabalha contra o processo de
desenvolvimento econômico e geração de empregos – agenda escolhida
pela população brasileira nas eleições de 2010, quando elegeu a
presidenta Dilma”, afirma Cordeiro. “A decisão favorece
apenas aos rentistas e especuladores, que há muito tempo vem
chantageando o governo. O país não pode continuar refém dos
interesses deste segmento”, sustenta.