Assédio moral atinge 66% dos bancários no Brasil, diz consulta da Contraf-CUT

O assédio moral atinge 66% dos bancários,
segundo a consulta feita por sindicatos junto a 27.644 trabalhadores
em 2011 e apurada pela Contraf-CUT. O índice abriu a capa do caderno
Carreiras e Empregos na edição do último domingo (31) da Folha de
S.Paulo. A reportagem completa possui três páginas e revela que a
agressão no trabalho tem novos formatos e o ambiente ruim favorece
abusos.

Na capital paulista e em Osasco, 42% dos bancários
dizem ter sido vítimas de assédio moral, indica pesquisa do
Sindicato dos Bancários de São Paulo com 818 profissionais.

“As
principais queixas são cobrança abusiva, humilhação e falta de
reconhecimento”, lista Juvandia Moreira, presidente do
Sindicato. A entidade assinou acordo com vários bancos no início do
ano para criar canal de denúncias de assédio moral.

Segundo
Magnus Apostólico, diretor da Febraban (Federação Brasileira de
Bancos), as queixas recebidas serão utilizadas para “melhorar
as relações de trabalho”.

No TRT-SP (Tribunal Regional
do Trabalho), o total de ações por assédio caiu 3,6% no primeiro
semestre de 2011, em relação ao mesmo período de 2010. Até junho,
22.739 processos tramitavam em primeira instância.

Tentativa
de suicídio

Cinco caixas de antidepressivos por mês e
uma tentativa de suicídio. Essa é a realidade do supervisor Wagner
Araújo, 33, há dois anos, depois de sofrer ataque nervoso no banco
em que trabalha. Desde 2009, ele está afastado pelo INSS (Instituto
Nacional do Seguro Social).

Além da pressão por metas,
Araújo conta que era chamado de Gardenal (remédio psiquiátrico)
por colegas. “Os chefes gritavam comigo, e eu perdia o controle
emocional.”

Humilhação

Receber medalhas
na festa de confraternização da empresa é, na maioria das vezes,
motivo de orgulho. Para Vivian Nascimento, 27, o prêmio significou o
contrário.

Nova em uma multinacional do setor de
informática, a analista de suporte foi classificada pelos colegas
como uma das piores funcionárias do departamento. Tudo com o aval
dos chefes diretos.

Na festa de fim de ano de 2008 – na qual
não foi porque estava de plantão -, recorda ela, foi organizada
cerimônia com entrega de faixas e medalhas aos primeiros colocados
em cada categoria.

“Fui nomeada uma das funcionárias
mais desesperadas, perdidas e sem noção da equipe”, conta ela.
Nascimento foi demitida dois anos depois da “premiação”,
em um corte de funcionários, e entrou com processo contra a empresa
por assédio moral.

Com a chegada da geração Y (nascidos
entre 1978 e 2000) nas empresas e a maior competitividade entre
companhias, casos como o de Nascimento são cada vez mais comuns,
apontam especialistas.

“Os jovens são intolerantes em
relação a problemas no trabalho”, argumenta Roberto Heloani,
professor de psicologia do trabalho da Fundação Getulio Vargas.
“Além disso, são cada vez mais cobrados por resultados.”

A luta contra o tempo, afirma o professor, é um dos fatores
responsáveis pelo assédio moral do chefe com seus funcionários.
“Como muitos [desses gestores] são jovens, o assédio vem de
formas diferentes, como brincadeiras ofensivas e boicote de trabalho
[o empregado é excluído de projetos, por exemplo].”

Ser
humilhado pelo chefe, no entanto, não é situação exclusiva no
escopo do assédio moral no trabalho, destaca o advogado trabalhista
Alexandre Lindoso. “Hoje os próprios colegas são responsáveis
pela humilhação.”

O motivo, explica, é o aquecimento
do mercado, que aumenta a empregabilidade, mas incentiva o “espírito
competitivo dos profissionais”. Casos de assédio moral
horizontal – quando o agressor não é chefe da vítima – já são
reconhecidos pela Justiça. “Se o problema ocorreu embaixo do
guarda-chuva da empresa, ela é a responsável”, esclarece
Lindoso.

Terezinha Rodrigues, 53, foi alvo dos dois tipos de
assédio moral: foi humilhada por superiores e colegas. Contratada
para atuar como auxiliar de codificação em um órgão público –
como comissionada -, foi obrigada a trabalhar com malote e como
auxiliar de portaria.
“Os funcionários falavam que iam me
dar um par de patins para eu trabalhar mais rápido”, diz. Em
2010, após 30 anos na empresa, foi demitida e entrou com processo na
Justiça.

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