Para Contraf-CUT, bancos alcançam lucro às custas da saúde do trabalhador

Levantamento feito pela consultoria Economatica revela o setor bancário
como o mais lucrativo no Brasil no primeiro trimestre deste ano. O
estudo, divulgado na segunda-feira (23), abrange 307 empresas de capital
aberto e mostra que os 25 bancos pesquisados somaram ganhos de R$ 12
bilhões, valor 18,2% maior que entre janeiro a março de 2010.

Para o secretário de Saúde do Trabalhador da Contraf-CUT, Plínio Pavão, o
custo para tal rentabilidade é o sofrimento cotidiano de trabalhadores
submetidos à pressão para cumprimento de metas abusivas. O dirigente
lembra que a consulta feita aos bancários para a Campanha Nacional de
2010 indicou que 77% dos trabalhadores apontaram a questão das metas
como problema e 79% estavam preocupados com o assédio moral.

Plínio defende que o assédio moral não é simplesmente uma questão de
personalidade de quem o pratica, mas sim resultado da forma como o
trabalho está organizado. Para explicar tal relação, o diretor da
Contraf-CUT faz um recorte histórico. Segundo ele, até meados da década
de 1990 a grande vilã dos bancários era as Lesões por Esforço Repetitivo
(LER). “Depois começamos a perceber que a grande queixa, junto com a
LER, passou a ser o sofrimento mental, como síndrome do pânico e a
depressão, chegando até a casos de suicídio, resultantes de um cotidiano
cheio de pressões”.

A aparição das doenças mentais, avalia Plínio, se relaciona com a
reestruturação produtiva ocorrida na década de 1990. “Antes os bancos
lucravam com a inflação. Quando ela passou a ser controlada, os bancos
tiveram que rever a forma de obter lucros. Hoje, quando o foco tornou-se
a venda de produtos, as metas passaram a ser as grandes vilãs da saúde
do trabalhador”, resume Plínio.

Além da pressão, os bancos não investem na prevenção de acidentes e
doenças. “Os banqueiros a cada ano incrementam sua rentabilidade e se
apropriam de todos os resultados. Sequer investem minimamente na
prevenção de acidentes e doenças de seus funcionários. O custo social
desta postura acaba sendo maior. Vemos cada vez mais trabalhadores
incapacitados precocemente”, afirma o diretor da Contraf-CUT.

É grande a discrepância entre as instituições financeiras e os demais
setores da economia. O resultado foi equivalente a 23,13% do total dos
lucros de todas as empresas no primeiro trimestre. Depois dos bancos,
vieram as 31 empresas de energia (R$ 3,88 bilhões) e as 11 companhias de
alimentos e bebidas (R$ 2,72 bilhões).

O dirigente da Contraf-CUT pondera que acabar com as metas é uma
perspectiva irreal. “O trabalhador evidentemente tem um contrato de
trabalho o que o obriga a produzir, porém esta exigência não pode ir
além da capacidade das pessoas”, afirma. Plínio reivindica que a
Convenção Coletiva de Trabalho Nacional (CCT) estabeleça os limites e
que as metas sejam discutidas com os funcionários de cada local de
trabalho. “O funcionário, mais do que ninguém, está em condições de
opinar sobre seu próprio trabalho”, finaliza.

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