Empresas ampliam contratação de negros mas restringem ascensão, diz Ethos

“Costura, faxina…”
Vanessa Santos Antônio, 20, sabe bem qual seria seu futuro se não
tivesse decidido cursar faculdade. “Nasci em uma família
pobre, em Brasilândia [zona norte de São Paulo], mas meu pai sempre
me ensinou que o único jeito de mudar de verdade e ter um padrão de
vida diferente é estudando.”

Aluna do último ano de
administração da Faculdade Zumbi dos Palmares, ela fez dois anos de
estágio no Bradesco e foi efetivada com escriturária no
departamento de recursos humanos. Depois de se formar, pretende fazer
pós-graduação e intercâmbio nos Estados Unidos para estudar
inglês.

Durante a era Lula, a participação de negros como
Vanessa nas empresas passou de 23,4% (2003) para 31,1% (2010),
segundo pesquisa do Instituto Ethos com as 500 maiores empresas do
país.

“A mão de obra negra está mais inserida no
mercado de trabalho, mas ainda está bem abaixo do que deveria,
considerando que eles representam 46% da PEA (população
economicamente ativa)”, diz Paulo Itacarambi, vice-presidente do
Ethos.

Alguns fatores, diz ele, explicam esse aumento. Um é
a melhoria da autoestima, que tem contribuído para aumentar o número
de pessoas que se declaram negras (pretos e pardos).


ainda a política de cotas nas universidade, melhorando a
qualificação. Por fim, vem a percepção, por parte das empresas,
de que a diversidade é positiva para a organização.

Mas,
apesar dos avanços, a análise da presença do negro em diferentes
níveis hierárquicos evidencia uma enorme desigualdade.

Quanto
maior o nível hierárquico, menos negros. Eles ocupam 25,6% dos
cargos de supervisão. Estão em 13,2% dos cargos de gerência e em
5,3% dos cargos de diretoria.

“É preciso criar
oportunidades para essas pessoas subirem na empresa e isso requer
esforço e investimento”, diz Itacarambi.

O Ethos
defende que as empresas tenham metas –mas não cotas– para reduzir
as desigualdades. “Empresas não funcionam com cotas. Mas, se
fizerem esse investimento, rapidamente a gente equilibra isso.”

Estágios – Para chegar aonde chegou, Vanessa Antônio
participou de um dos únicos programas privados dedicados à promoção
do negro no mercado de trabalho no país.

Sua faculdade tem
parcerias com dez empresas para a realização de estágios:
Bradesco, Citibank, Itaú, Santander, Banco do Brasil, Mercedes-Benz,
Ford, Dow Química, Cargill e Nestlé.

Cada uma recruta entre
20 e 40 alunos por ano. Em média, 90% são efetivados após o fim do
estágio. Desde que o programa foi criado, 483 alunos fizeram ou
estão fazendo estágio.

“O estágio é diferenciado.
Além do trabalho, eles fazem cursos de extensão por meio de
convênios com FGV, USP e Unicamp”, diz Francisca Rodrigues,
diretora da Zumbi dos Palmares.

A educação qualifica o
negro, mas ainda é preciso vencer preconceitos. “Ainda tem
muita gente de recursos humanos que contrata pela boa aparência, o
que, para eles, quer dizer branco de cabelo liso”, diz
Rodrigues.

“A gente vê isso aqui. Fechamos essas
parcerias com os presidentes. Mas, quando vem alguém de RH fazer a
seleção, às vezes a pessoa faz perguntas estranhas. Você vê que
ela não sabe nem como abordar os alunos negros.”

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