Uma pesquisa realizada no Hospital das Clínicas (HC) da Universidade
de São Paulo (USP) revela que o combate e a prevenção de abusos sexuais
a crianças precisam ser feitos, principalmente, dentro de casa. Segundo
o estudo, quatro de cada dez crianças vítimas de abuso sexual foram
agredidas pelo próprio pai e três, pelo padrasto.
Os resultados foram obtidos após a análise de 205 casos de abusos a
crianças ocorridos de 2005 a 2009. As vítimas dessas agressões
receberam acompanhamento psicológico no HC e tiveram seu perfil
analisado pelo Programa de Psiquiatria e Psicologia Forense (Nufor) do
hospital.
Segundo Antonio de Pádua Serafim, psicólogo e coordenador da
pesquisa sobre as agressões, em 88% dos casos de abuso infantil, o
agressor faz parte do círculo de convivência da criança.
O pai (38% dos casos) é o agressor mais comum, seguido do padrasto
(29%). O tio (15%) é o terceiro agressor mais comum, antes de algum
primo (6%). Os vizinhos são 9% dos agressores e os desconhecidos são a
minoria, representando 3% dos casos.
“É gritante o fato de o pai ser o maior agressor. Ele é justamente
quem deveria proteger”, afirmou Serafim, sobre os dados da pesquisa,
que ainda serão publicados na Revista de Psiquiatria Clínica da
Faculdade de Medicina da USP. “As crianças são vítimas dentro de casa.”
A pesquisa coordenada pelo psicólogo mostra também que 63,4% das
vítimas de abuso são meninas. Na maioria dos casos, a criança abusada,
independentemente do sexo, tem menos de 10 anos de idade.
Para Serafim, até pela pouca idade das vítimas, o monitoramento das
mães é fundamental para prevenção dos abusos. Muitas crianças agredidas
não denunciam os agressores.
Elas, porém, dão sinais de abusos em seu comportamento, segundo
Serafim. Por isso, as mães devem estar atentas às mudanças de humor das
crianças. “Uma mudança brusca é a maior sinalização de abuso”, disse.