Tiago Cocci Donaire é empregado da Caixa
Econômica Federal há exatos dez anos, sempre ocupando o cargo de
técnico bancário (TB), em São Paulo. Quem recebe essa informação
pode ser levado erroneamente a concluir que o trabalhador não teve
ascensão profissional porque não quis ou porque não se empenhou o
suficiente para conseguir uma promoção. Na verdade, o fato de se
manter como TB há uma década, segundo o empregado, é devido à
falta de condições para disputar as oportunidades que surgem em pé
de igualdade com os demais trabalhadores.
Deficiente visual,
ele relatou, ao receber de dirigentes sindicais a Folha Bancária
(FB) em braille, que existem várias barreiras que o impedem de
progredir. “Entre as exigências de cursos para ter uma promoção
está o de matemática financeira. O curso é feito on line. No
entanto, a calculadora que é disponibilizada está apenas em uma
imagem na tela. Para quem enxerga não tem problema, mas quem é cego
como eu fica sem condições de estudar”, relata o empregado.
O
trabalhador descreve outros problemas que demoram para ser resolvidos
pela Caixa. “No ano passado houve um curso baseado num jogo
interativo de lavagem de dinheiro, enquanto meus colegas o fizeram
assim que foi disponibilizado, no meu caso levou meses até que me
fosse adequado um formato que eu pudesse usar. Ora, o banco sabe que
existem pessoas com deficiência visual e não entendo porque já não
disponibilizam programas adaptados juntamente com os enviados aos
outros bancários”, diz.
O empregado afirma, ainda, que
se não fossem essas barreiras poderia estar em outra função. “Sou
formado em Direito e tenho vontade de progredir, mas, na minha
opinião, a direção da Caixa não se preocupa com isso. Mesmo as
pessoas que falam tanto em isonomia não nos incluem. Nós também
queremos ter as mesmas oportunidades que os demais. Não queremos
apenas fazer parte de uma quota. Conheci um colega com deficiência
visual que trabalhava numa agência, mas era colocado como
telefonista. Ora, temos condições de atender ao cliente, mas o
banco parece ter medo de tomar essa medida”, critica.