O presidente nacional
da CUT, Artur Henrique, publicou artigo nesta terça-feira, dia 3, no
site da Central, alertando os trabalhadores e a sociedade para as
tentativas de empresários e da mídia de impedir aumentos salariais
sob a desculpa do crescimento da inflação. Um filme que todos nós
já vimos muitas e muitas vezes no Brasil.
Artur revela uma
série de elementos que produzem efeitos no processo inflacionário e
que são escondidos pelos conservadores. “A existência de
setores oligopolizados, especialmente na indústria, faz com que a
ausência de concorrência facilite o repasse para os preços de
qualquer aumento nos custos”, aponta o presidente da CUT.
“Os
oligopólios também têm mais facilidade para aumentar margem de
lucros. Não podemos esquecer também das tarifas públicas, muitas
regidas por contratos indexados, que ajudam a ampliar os custos da
produção e a pressionar a inflação”, acrescenta o dirigente
sindical.
Leia a íntegra do artigo de Artur Henrique:
Os
patrões e a mídia querem impedir aumentos salariais e estão usando
a inflação como desculpa
As análises conservadoras
realizadas pelo mercado financeiro e divulgadas pelos meios de
comunicação vêm destacando os salários e seus aumentos reais como
vilões da inflação. Todas essas análises pretendem deter as
possibilidades de a recente melhora na distribuição de renda
continuar se dando pelo aumento da massa salarial.
Há pouco
tempo, a obsessão dos conservadores se concentrava no aumento da
taxa básica de juros como instrumento para deter a inflação. Com o
recente relevo dado aos salários, a questão dos juros cede um pouco
seu espaço, mas no fundo o caminho apontado por ambas as análises é
igual. O controle da inflação deveria se dar, segundo essas visões,
pelo aperto sobre os assalariados e trabalhadores como um todo, sem
pedir sacrifícios principalmente para o setor financeiro.
Esse
conceito de que a inflação deve ser combatida cortando-se as
conquistas salariais pode ocorrer de forma sutil, como a manchete da
Folha de S. Paulo do último domingo: “Inflação terá pico
durante disputa salarial”. O texto em nenhum momento ousa pregar
claramente que os aumentos salariais de 2011 precisam ser menores do
que os do ano passado, porém insinua que “quanto maior for o
sucesso das campanhas salariais, mais difícil será o esperado
retorno dos índices de inflação aos patamares desejados a partir
do fim deste ano”. Como se se tratasse de fenômeno natural,
acima das vontades e das disputas políticas.
Outros podem ser
mais explícitos, como o ex-ministro Mailson da Nóbrega em artigo
publicado em abril na revista “Veja”. No final do texto,
ele exorta o governo a “rever a política suicida de valorização
do mínimo”. Em parágrafos anteriores do mesmo artigo, o
ex-ministro especialista em inflação havia escrito que aumento real
de salário deve vir acompanhado de aumentos de produtividade.
Conclui-se, portanto, que ele não considera a defasagem do
salário mínimo em relação aos grandes ganhos de produtividade
observados no País desde a década de 1990, diferença que a atual
política de valorização do salário mínimo só ajudou a amenizar.
Há outras subjetividades no texto, mas aqui o que nos importa é a
questão da inflação versus salário.
O que queremos dizer
em primeiro lugar, para nos contrapor a esse ataque concentrado aos
salários, é de que é um absurdo tentar esconder que há outros
fatores que pressionam fortemente a inflação, mas que jamais são
citados por essas análises conservadoras.
Lucro causa
inflação. Distribuição de dividendos também pressiona a
inflação. O fato de a estrutura tributária ser regressiva, punindo
quem ganha menos, também causa inflação, pois os impostos incidem
majoritariamente sobre o consumo e são repassados diretamente aos
preços. A existência de setores oligopolizados, especialmente na
indústria, faz com que a ausência de concorrência facilite o
repasse para os preços de qualquer aumento nos custos. Os
oligopólios também têm mais facilidade para aumentar margem de
lucros. Não podemos esquecer também das tarifas públicas, muitas
regidas por contratos indexados, que ajudam a ampliar os custos da
produção e a pressionar a inflação.
Querer tratar da
questão inflacionária, e principalmente combatê-la, sem considerar
essas variáveis é falso e mal-intencionado.
Ainda assim, se
considerarmos apenas a variável salário, podemos dizer com certeza
que o debate que se dá neste momento através das análises
conservadoras é absolutamente questionável. Segundo o Sistema de
Contas Nacionais do IBGE, o consumo das famílias, em relação ao
PIB, caiu entre 2009 e 2010, de 61,7% para 60,6%.
Esse dado
sinaliza que o consumo das famílias tem permanecido estável em
relação ao crescimento do PIB – e até caiu de 2009 para 2010. O
alarde em torno de uma explosão do consumo e de uma inflação de
demanda é, então, falso. O “excesso” salarial é uma
ficção.
Já sobre o comparativo entre produtividade e
aumento de salários, é importante lembrar que, a partir da década
de 1990, quando tiveram início aumentos sucessivos de produtividade
no Brasil, somente a partir de 2004 os salários apresentaram alguma
trajetória de elevação. Portanto, a elevação salarial chegou com
mais de 10 anos de atraso, deixando atrás de si um grande acumulado
de aumento de produtividade.
Como resultado, no período de
quase 20 anos entre 1989 e 2008, a produtividade da indústria
aumentou 84%, enquanto no mesmo espaço de tempo a renda média dos
salários caiu 37 pontos.
Outro argumento que usamos para
refutar essa tentativa em curso de impedir aumentos reais de salários
neste ano é, apesar de óbvio, normalmente “esquecido”
pelos conservadores. Os aumentos de salário são sempre conquistados
a partir da inflação acumulada nos 12 meses anteriores, ou seja,
não são estipulados a partir de expectativa de índices
futuros.
Voltaremos ao assunto.