Esplanada dos Ministérios é Terra Livre para os povos indígenas

A principal mobilização do Movimento Indígena
Brasileiro teve início na madrugada desta segunda-feira, 2 de maio,
e segue até a próxima quinta-feira. Integrantes de pelo menos 70
povos levantaram barracas para exigir do governo federal e da
Fundação Nacional do Índio (Funai) que as leis protetoras dos
direitos indígenas sejam respeitadas.

O secretário executivo do Conselho Indigenista
Missionário (Cimi), José Éden Magalhães, frisou o apoio da
entidade ao Terra Livre como espaço de unidade do movimento indígena
preocupado com as mais variadas formas de agressão aos territórios
das comunidades.

“Acreditamos que outro mundo é possível com os
indígenas”, disse. Para ele, os grandes empreendimentos, como a
usina de Belo Monte, no Pará, a falta de demarcações das terras
indígenas e a criminalização das lideranças são formas de
alienar direitos tradicionais e constitucionais dos povos.

A sociedade envolvente cada vez mais encara a
construção de barragens e a expansão do agronegócio como sinais
de desenvolvimento nacional. No entanto, os indígenas não veem
dessa maneira. “A construção de uma hidrelétrica faz com que
tudo o que esteja ao redor fique debaixo da água. Como poderemos
viver sem nossas florestas? Todo um ciclo da cultura indígena está
ali. Desde os nossos antepassados aos animais e aos remédios
naturais”, disse Kretã Kaingang.

Vida sob a lona – O ataque aos
povos indígenas afeta de maneira semelhante comunidades de todo o
Brasil. Algumas situações, porém, revelam o tamanho do descaso das
autoridades governamentais, sobretudo da Funai. Os Guarani do Rio
Grande do Sul, por não terem terras suficientes demarcadas e
homologadas, sobrevivem à beira das rodovias sob barracos de saco
preto e lona. Cerca de três mil Guarani estão espalhados pelo
estado. Situação também vivenciada pelos Guarani do Mato Grosso do
Sul.

Maurício Guarani é uma das lideranças de seu
povo. Ele explica que algumas terras foram demarcadas, “mas são
muito pequenas e nossa população aumentou (…) nessas terras meu
povo também não consegue plantar o alimento”. A vida dos Guarani
sob a lona no estado está às margens das rodovias BR-101, BR-116,
BR-290 e BR-040. O povo sobrevive sem água potável, assistência
médica, o alimento é escasso e falta saneamento básico.

“O Terra Livre é um momento importante de
mostrar tudo isso para a presidente Dilma (Roussef) e exigir que
nossos direitos sejam respeitados. É o grito Guarani e de todos os
povos do país”, afirmou Maurício.

Belo Monte, Bela Morte – No Pará,
o desafio dos povos é combater a construção da usina de Belo
Monte. Josinei Arara vive com sua comunidade na chamada Volta Grande
do Xingu. O empreendimento acabará com a aldeia onde vive, além de
outras 29 na região. Para ele, a usina irá destruir a floresta e
isso afetará inclusive comunidades que não irão para debaixo da
água.

“Não queremos nada que venha destruir nossa
Amazônia, nossa floresta. Dela tiramos nossa cultura. Temos de
preservá-la para nossos filhos e netos. Vamos lutar até o fim”,
salientou. Belo Monte é outra pauta na lista de reivindicações do
Terra Livre. A usina se tornou um símbolo, ao lado das prisões e
assassinatos de lideranças indígenas, do quanto o governo federal
passa por cima de direitos garantidos por lei. A Funai chegou a
forjar uma consulta aos povos para a construção da usina.

Josinei Arara relata ameaças sofridas por
colonos: “Falam que vão incendiar a aldeia”. Toda pressão
sofrida pelos indígenas, inclusive da Polícia Federal como na Serra
do Padeiro, sul da Bahia, local onde vive o povo Tupinambá, aumenta
cada vez mais. Na plenária do Terra Livre, depoimentos de várias
lideranças corroboram com as notícias de assassinatos, mandados de
prisão e ameaças de morte.

Neguinho Truká vive com seu povo em Pernambuco. A
transposição do rio São Francisco é o empreendimento que põe em
risco as aldeias Truká. “Desde 2005 estamos lutando pela
demarcação. Com a transposição estima-se que 385 mil hectares de
caatinga serão desmatados”, diz. Neguinho relata que uma base do
Exército Brasileiro está instalada nas terras Truká como forma de
intimidar seu povo.

A resistência acaba sendo a única saída dos
povos contra o ataque aos seus direitos. “Os federais somos nós
(indígenas). Mas se os federais quiserem vir nos tirar das terras,
nós temos as bordunas (espécie de bastão de madeira) para eles”,
afirma Isabel Apinajé, do Tocantins.

Evento ao vivo na internet – O
Terra Livre pode ser acompanhado, ao vivo, pela internet no endereço
eletrônico http://www.ustream.tv/channel/atlindigena

Expediente:
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