Indústria
e comércio dos mais diversos segmentos da economia se debruçam
sobre a classe C que emerge como novo motor do consumo. Estão todos
empenhados em entender os hábitos, preferências e necessidades
desse público que, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), já
responde por metade da população brasileira (exatos 49,22%).
Mas
por trás da demanda crescente por eletroeletrônicos, veículos,
imóveis, entre outros produtos de uma lista de desejos sem fim,
existem os recursos – e, em última instância, a alavanca do
crédito. Como será, pois, a relação entre a classe média e o
dinheiro?
Um levantamento feito pela Associação Comercial de
São Paulo (ACSP) com 800 pessoas em novembro do ano passado,
intitulado “Perspectivas do consumo”, oferece um retrato
interessante dessa nova classe média (com renda familiar mensal de
R$ 1.116 a R$ 4.807) sob o aspecto financeiro.
A
estratificação da pesquisa por camadas sociais foi aberta com
exclusividade para o Brasil Econômico. O objetivo do estudo é
compreender o papel do crédito para esse grupo de consumidores e,
além disso, verificar como eles lidam com a dívida.
A classe
C se mostra otimista com a economia brasileira e, por extensão, com
o próprio futuro financeiro. Quando questionadas sobre a situação
econômica do país nos próximos 12 meses, 67,7% das pessoas da
classe C acreditam que ela estará melhor.
Da mesma forma,
33,20% estão confiantes na ascensão social para as classes AB nos
próximos cinco anos.
Esse nível alto de confiança tem
estimulado a ida às compras. E o crédito, sem dúvida, tem
possibilitado o acesso a produtos de melhor qualidade. A forma de
pagamento mais usada é, de longe, a compra a prazo.
Para a
aquisição de móveis, por exemplo, corresponde a 60,3%; para a
compra de eletrodomésticos, a 53,9%; e para a reforma da casa, a
51,9%.
Mas, ao mesmo tempo que o otimismo estimula as compras
a prazo, faz aumentar também o comprometimento da renda com parcelas
que tendem a representar uma fatia do salário cada vez mais
significativa. Aí mora o perigo da inadimplência.
“Embora
a maioria das pessoas mostre disposição para se planejar
financeiramente, 53,2% dos entrevistados admitem comprar por
impulso”, observa Sandra Turchi, superintendente de marketing da
Associação Comercial de São Paulo.
É preciso que haja,
portanto, um trabalho intensivo de conscientização junto a essa
classe C que, só agora, passa pela experiência de ter crédito
farto na praça. “O sistema bancário ganha ainda mais com juros
sobre atrasos”, alerta Sandra.
Ela cita o exemplo do
valor mínimo de pagamento do cartão de crédito. “Já vi
muitos casos de confusão entre o valor da fatura do cartão e o
pagamento mínimo que aparece em destaque”, comenta.
“Essas
pessoas estavam acostumadas a comprar com carnê e não são
orientadas a usar os novos meios de pagamento.”
A falta
de conhecimento se estende também para a seara dos juros bancários.
De acordo com a pesquisa feita pela ACSP, no discurso os juros são
indesejados. Mas quando perguntados sobre o que é mais importante,
se a taxa de juro ou se o valor da parcela cabe no bolso, 51,3% dos
entrevistados pertencentes à classe C deram como resposta o valor da
parcela.
Além disso, 51,9% não sabia responder qual era a
taxa de juro cobrada em suas compras a prazo.
Planejamento
financeiro
A boa notícia é que existe, sim, uma vontade
genuína do consumidor em se planejar financeiramente. Na hora da
compra, 47,9% das pessoas da classe C informaram fazer pesquisa de
preço em diversas lojas.
Nas classes DE, todas as famílias
entrevistadas fazem pesquisa de preço. Isso porque uma redução de
10% no valor de uma geladeira, por exemplo, pode representar até 25%
do salário.
Pechinchar é conduta arraigada na classe média
– 71,9% dos consultados confirmam a prática antes da compra. De
forma semelhante, 88% das pessoas afirmam levar em consideração as
dívidas atuais nas próximas compras, e 44,80% usam planilha para
monitorar os gastos.
“É essencial ter um nível de
endividamento que não saia do controle”, observa Sandra. “A
ideia é comprar bem para comprar sempre.”