São três da tarde de um dia de semana e dezenas de bancários fazem uma
manifestação barulhenta, nas esquinas das ruas 25 de Mayo e Sarmiento, o
coração financeiro de Buenos Aires. Muitos pedestres e motoristas
reclamam. Os principais bancos do país têm suas sedes em um raio não
maior de 500 metros.
Acaba de ser aberta a negociação coletiva da categoria e os
trabalhadores pedem 30%, no mínimo, de reajuste salarial. A menos de uma
quadra dali, em um edifício bem conservado do centro, fica a sede do
sindicato nacional dos bancários. Os argentinos o chamam apenas de “La
Bancaria”.
Na semana passada, três dirigentes da entidade sindical aceitaram
conversar com o Valor sobre suas expectativas em torno da chegada do BB à
Argentina. Dois deles, Daniel Fiure, e Santiago Balbín, fazem parte da
comissão de empregados do Patagônia. Alejandra Estoup, secretária-geral
da seção Buenos Aires de La Bancaria, tem sido a principal negociadora
dos trabalhadores com os brasileiros.
“As expectativas não são boas nem ruins. Há diálogo fluido, e isso é um
ponto positivo”, começa Alejandra. Para ela, as conversas tiveram um bom
início com o compromisso do BB de levar para o Patagônia todos os 42
funcionários que mantinha na representação em Buenos Aires.
Diferentemente de outros negócios no setor financeiro, essa não é uma
fusão entre dois bancos com estruturas grandes, o que não gera
sobreposição de agências nem de funções. Por isso, é um processo mais
calmo.
Hoje a principal pendência entre o Patagônia e seus funcionários é a
reivindicação de um bônus pela venda ao BB. La Bancaria quer uma
gratificação de três salários iniciais da categoria, atualmente em 4.495
pesos (US$ 1.120), aos 2,9 mil empregados da entidade financeira.
“Os bancos ganharam uma fortuna incomensurável nos últimos anos. E, se
os Stuart Milne conseguiram vender suas ações por quase US$ 500 milhões,
foi graças a muito empenho e a muito coração dos funcionários. Se não é
o melhor do país, o quadro de pessoal do Patagônia está entre os cinco
primeiros, sem dúvida”, diz Fiure, taxativo.
Balbín afirma estar relativamente otimista em relação aos planos de
crescimento do Patagônia, mas faz ressalvas. “Até agora, no que diz
respeito à transição, a política do BB tem sido correta. Mas já vimos
tantos filmes que temos certos reparos. As expectativas são boas, só que
vamos passo a passo”, comenta.
Alejandra pede cuidado com esse tipo de anúncio. “Quando o Itaú chegou à
Argentina, também anunciou uma política agressiva de expansão, mas a
primeira coisa que aplicou foi uma estratégia indiscriminada de demitir
pessoal. Não lhe serviu para nada”, afirma. “O Banco do Brasil deixou
claro, nas reuniões conosco, que não quer repetir o erro tomado pelo
Itaú.”
Para concluir, a líder sindical expõe a posição dos trabalhadores. “Eles
(o Patagônia e o BB) sabem que, se começarem com problemas com os
empregados, isso só vai dificultar seus planos de expansão. Nós sempre
conseguimos fazer valer a nossa agenda. Se há algum banco antissindical,
neoliberal e com cultura de capitalismo selvagem, é o Citi. E até lá
nós temos delegados e comissão interna”, arremata.