Companhias
que oferecem flexibilidade de horários têm funcionários mais
engajados e satisfeitos. Levantamento global realizado com 3.300
gerentes e profissionais mostra que políticas nesse sentido ajudam a
levantar os índices de retenção nas organizações em 25% no caso
dos homens e em 40% entre as mulheres.
O
estudo indica que quanto mais específicos e customizados forem esses
programas para atender os diferentes perfis dos colaboradores,
melhores serão os resultados para as empresas.
“Oferecer
essas alternativas aumenta significativamente o bem-estar dos
trabalhadores, mas é preciso entender quais modelos se encaixam
melhor para cada um deles”, afirma Marcial Rapela, sócio da
consultoria Bain & Company, responsável pela pesquisa.
No
caso da IBM, empresa que possui 400 mil funcionários em todo o
mundo, oferecer programas customizados de flexibilidade foi a solução
para atender às necessidades de pessoas que trabalham em turnos
deslocados ou em cidades onde não há escritórios da companhia, por
exemplo.
Gabriela
Herz Francoio, gerente do programa de diversidade da empresa, afirma
que uma das alternativas mais populares é o home office, praticado
por pelo menos 10% dos colaboradores no Brasil e no mundo.
Até
mesmo dentro desse sistema existe maleabilidade. Para algumas pessoas
há possibilidade de alternar dias de trabalho em casa e no
escritório. “É uma forma de usufruir dos benefícios do
trabalho em casa sem perder o contato com o escritório”, afirma
Gabriela, que também aderiu à prática duas vezes por semana.
A
IBM possibilita a negociação de uma semana ou um dia de trabalho
mais flexível – o profissional pode entrar mais tarde, sair mais
cedo e até mesmo compensar horas não trabalhadas em outro dia -,
além de licenças não remuneradas que podem durar até 3 anos.
Cada
tipo de flexibilidade, porém, possui um público “ideal”,
que muda de acordo com o momento pessoal e de carreira.
Segundo
a pesquisa, existem funcionários que abrem mão de crescer
rapidamente na empresa para trabalhar menos horas e ter uma rotina
mais planejada. Outros são mais ambiciosos e buscam desafios e
resultados, mesmo que isso signifique um dia a dia imprevisível.
Na
DuPont, empresa do setor têxtil com 2.500 funcionários no Brasil,
há opções como licenças não remuneradas, que atendem desde
profissionais que querem se dedicar temporariamente aos estudos a
mães que desejam estender a licença maternidade além do tempo
regulamentar.
Também
existe a possibilidade de mudar os horários de entrada e saída do
trabalho, caso o profissional tenha que deixar os filhos na escola ou
queira fugir do trânsito. Segundo Claudia Pohlmann, diretora de RH
da empresa, a ideia é reforçar o conceito de equilíbrio entre vida
pessoal e profissional. “Na prática, todos os públicos são
receptivos e valorizam algum tipo de flexibilidade.”
Mesmo
assim, existe uma parcela de trabalhadores que ainda resiste na hora
de aderir a essas políticas. Na indústria de engenharia SKF,
empresa com 980 funcionários no Brasil, há aqueles que não abrem
mão de ficar no escritório. A empresa implementou o home office
para as áreas administrativas há três anos.
De
acordo com Antonio Boueri, diretor de RH da companhia, essa é uma
alternativa normalmente rejeitada por profissionais que precisam do
contato diário com os colegas ou que não têm um ambiente adequado
em casa para trabalhar. “Na área comercial, é uma prática bem
recebida. Para as demais, existe desde inadequação até preocupação
de parecer pouco importante ou desprestigiado”, afirma.
No
caso dos funcionários mais jovens, porém, a visão já começa a
mudar. Segundo Boueri, eles são os que melhor se adaptam a esse tipo
de programa oferecido pela empresa. Um dado do levantamento confirma
a tendência: 86% dos profissionais de até 30 anos esperam algum
tipo de flexibilidade de seus empregadores.
Desenvolver
projetos que ofereçam maleabilidade de horários, no entanto, não é
suficiente. Segundo Rapela, da Bain & Company, é importante que
os funcionários sejam estimulados a usá-los.
A pesquisa
mostra que, em média, 60% das empresas possuem algum modelo
flexível, mas apenas 18% delas têm essas opções aproveitadas
amplamente pelos profissionais. “É importante deixar claro que
as pessoas que optam por essa possibilidade não perderão
oportunidades de carreira e nem o respeito de colegas, clientes e
chefes”, diz.
A
diretora de RH da DuPont afirma que afastar essa preocupação foi
parte de um projeto de educação da empresa. Em 1994, quando deu
início aos programas de flexibilidade, a companhia elaborou um guia
que ajudava as pessoas a enfrentar a nova realidade e a entender o
que era o home office.
Hoje,
essa política está totalmente incorporada pelos profissionais. “O
conceito evoluiu muito. O profissional percebe que não estar
fisicamente no escritório não o afasta do time”, afirma.