Uma onda de racismo
tomou conta da internet, dos jornais e das redes sociais peruanas
diante da vitória do candidato de esquerda, Ollanta Humala, no
primeiro turno do pleito presidencial. Humala, que é de origem
indígena, disputará o segundo turno no dia 5 de junho com a
candidata Keiko Fujimori, de direita. Ela é filha do ex-presidente
Alberto Fujimori, que cumpre 25 anos de prisão por corrupção e
violações de direitos humanos.
Na internet, blogs e o
Facebook amanheceram lotados de xingamentos aos “cholos”
(termo depreciativo para se referir a indígenas) e “índios”
favoráveis a Humala.
“Porcaria de cholo, se você for
presidente eu prefiro ser preso”, dizia um internauta. “Ollanta
é um índio de merda, e todos os pobres votam nele porque ele vai
tirar o dinheiro das pessoas normais”, afirmava outro.
As
manifestações eram semelhantes ao movimento no Twitter brasileiro
contra os nordestinos que votaram na candidata Dilma Rousseff na
eleição do ano passado.
Até os jornais peruanos entraram na
guerra suja verbal. No editorial de ontem do jornal Peru21, o diretor
Fritz du Bois afirma: “É tão evidente a tentativa de Humala de
se branquear e se apresentar como moderado, que é difícil dar
resultados”.
No diário Correo, o diretor
ultraconservador Aldo Mariátegui foi mais longe e disse que “já
começou a operação de pentear o macaco”. Mais adiante,
comparou Humala ao ditador alemão Adolf Hitler. “Isso me lembra
quando a direita alemã tentou domar Hitler e o nomeou chanceler
junto com o centrista Papen”, escreveu. “A lulificação de
Humala (…) não passa de uma miragem.”
A onda de
ofensas levou Gastón Acurio, o mais famoso chef peruano e um ídolo
no país, a pedir calma em sua página no Facebook.
Os ataques
a Humala geraram reações na parcela de centro-esquerda da
população, que não votará em Keiko por considerá-la autoritária
como seu pai – em um “autogolpe”, Fujimori fechou o
Congresso em 1992.
“Temos de escolher entre perder nosso
dinheiro [com Humala, por causa da estatização da economia] ou
perder nossos valores [com Keiko, por causa da corrupção]”,
disse o publicitário e escritor Gustavo Rodriguez.