Bancárias homenageiam luta da socióloga Beth Lobo por igualdade de gênero

No última sexta-feira, dia 8, aconteceu o Seminário “Trabalho, Dominação
e Resistência”, em homenagem a socióloga Elisabeth Souza-Lobo, no
Centro Universitário Maria Antônia da Universidade de São Paulo (USP),
em São Paulo. Foi um dia inteiro de debates e reflexões sobre a vida e
obra da socióloga Beth Lobo, como era carinhosamente chamada, e contou
com a participação de importantes pesquisadoras e acadêmicas como Ângela
Araújo, Eleonora Menicucci, Paola Cappellin e Liliana Segnini, entre
outras.

A secretária de Assuntos da Mulher do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, Sandra Albuquerque, participou do evento.

A comissão organizadora do seminário foi formada por Helena Hirata
(socióloga, CNRS), Leila Blass (socióloga, PUC-SP), Marilena Chaui
(filósofa, USP), Tatau Godinho (conselho curador da Fundação Perseu
Abramo) e Vera Soares (física ligada à economia solidária da USP).
Diversas dirigentes sindicais bancárias participaram do evento.

“As parcerias entre teóricos e sindicalistas sempre renderam bons frutos
no que se refere às questões de gênero, como mostra o trabalho de Beth
Lobo”, lembroua secretária de Políticas Sociais da Contraf-CUT, Deise
Recoaro. “Antes dela, já tínhamos a contribuição de Heliete
Saffioti, que nos deixou no ano passado. O conceito de gênero
revolucionou a maneira de abordar a discriminação contra a mulher,
retirou-a do papel de vítima ou da naturalidade imposta pela vida e nos
convidou a compartilhar com os homens as diferentes formas de opressão
do qual todos e todas construímos socialmente”, afirmou.

O trabalho de Beth Lobo inovou, desde o início dos anos 1980, as
pesquisas sobre gênero e trabalho no Brasil. Ela dedicou-se ao ensino e à
pesquisa nessa área a partir de 1982, no corpo docente do Departamento
de Sociologia da USP. Lobo conceptualizou, a partir das práticas
operárias da região do ABC paulista, a divisão do trabalho entre homens e
mulheres e teve intenso intercâmbio intelectual com pesquisadoras da
Europa, dos Estados Unidos e do Canadá.

Ela aliou perspectiva feminista e trabalho teórico, como suas
precursoras Heleieth Saffioti e Eva Alterman Blay. Estaria de acordo,
certamente, com a afirmação da filósofa francesa Elsa Dorlin, de que “o
sexo é, antes de mais nada, político”. Por isso, a problemática da
dominação entre os sexos e suas consequências sempre foi central na
Sociologia do Trabalho, na qual contribuiu, de maneira original, na
estrutura e desenvolvimento no Brasil.

Sua morte prematura em março de 1991, aos 47 anos, impediu a realização
de novas pesquisas, novas teorizações e intercâmbios, mas a disseminação
de suas ideias se deu por colegas e discípulas, doutorandas e
estudantes, como também pelas sindicalistas e militantes políticas com
quem conviveu e trabalhou no dia a dia. Entre as especialistas da
questão do gênero no Brasil, foi uma das primeiras a analisar o difícil
acesso das mulheres aos postos de comando, sobretudo no campo político e
sindical.

A atualidade das reflexões de Beth Lobo se evidencia, quando se compara o
princípio de não hierarquização das diferenças, dos objetivos
estratégicos, do “principal” e do “secundário” às teorias da
“consubstancialidade”, de Danièle Kergoat, ou da “intersecionalidade”,
de Kimberlé Crenshaw: relações de classe, sexo e raça estão imbricadas e
são indissociáveis. Nos seus estudos, privilegiou a questão da
subjetividade e da intersubjetividade, um tema marcante de pesquisas
recentes sobre as formas de gestão do trabalho e das relações sociais de
gênero.

Veja abaixo depoimentos das bancárias que participaram do evento:

Sandra Albuquerque (Sindicato dos Bancários de Pernambuco)

“Para mim foi um momento de extremo crescimento. Dirigente sindical
recém liberada e no meu primeiro mandato, pude ver como seminários
iguais a este nos trazem conteúdo, além de nos impulsionarem cada vez
mais em nossa luta por tantas bandeiras importantes.”

Deise Recoaro (Contraf-CUT)
“Não é fácil despertar para o problema da discriminação, é por isto que
temos muitas mulheres que se recusam a tocar o tema. Mas eu
particularmente agradeço a grande contribuição das acadêmicas, em
especial as feministas, que souberam pautar o tema e apontar a
necessidade de transformar esta realidade, que é o papel primordial de
qualquer sindicalista.”

Jô Portilho (Contraf-CUT)
“Ler a produção intelectual de Beth Lobo produz em nós uma enorme
satisfação pela riqueza da dimensão do mundo real que ela compreende.
Mas testemunhar a emoção descrita por quem conviveu com ela (em todas as
suas dimensões – professora, amiga, formadora sindical, mãe, gourmet,
feminista, ativista política…) provoca a certeza da sua
imprescindibilidade! Outra relação social de gênero é possível!”

Ana Tércia (Sindicato dos Bancários de São Paulo)
“A reflexão teórica de Beth Lobo sempre se articulou com a realidade
social e isso explica o grande valor de sua obra. Superando a aparência
dos fatos e buscando a essência dos processos, ela recuperou a noção de
que existem formas de exploração, dominação e valoração com
especificidades que perpassam tanto nas relações entre capital e
trabalho como em outras relações sociais vividas no cotidiano. A
categoria analítica gênero serviu para aprofundar as análises do mundo
do trabalho e, sobretudo, serviu para lembrar que a história da
humanidade não é apenas a história das grandes narrativas ou de
instituições. Ela é, antes de mais nada, a história de mulheres e homens
de carne e osso”.

Cida Cruz (Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro)
“Mesmo quando estava em outro partido politico, sempre ouvi falar muito
de Elizabeth Lobo nas reuniões e encontros de que participava e para mim
foi muito importante conhecer melhor todas as suas contribuições
teóricas e ouvir sobre sua grande colaboração na organização das
trabalhadoras da CUT. Com certeza, foi um dia de grande emoção.”

Sonia Boz (Sindicato dos Bancários de Curitiba)
“Para mim, foi muito importante participar do seminário por vários e
diferentes motivos, entre eles, presenciar o debate sobre a divisão
sexual do trabalho, compreender a relação de desigualdade e hierarquia
que permanece no mundo do trabalho e, com muita tristeza, reconhecer que
ela está presente também em nosso meio sindical.”

Expediente:
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