Seminário debate assédio moral nos bancos e acordo conquistado pelos bancários

O acordo de combate e
prevenção ao assédio moral nos bancos, conquistado pelos bancários
na Campanha Nacional do ano passado após 15 dias de greve, é um
grande instrumento para resolver de vez o problema. Mas o Sindicato
deve trabalhar pesado para que o acordo surta os efeitos desejados
pelos trabalhadores. Esta foi a conclusão do 1º Seminário
Pernambucano sobre Assédio Moral no Setor Bancário, realizado pelo
Sindicato no último sábado, dia 9. O evento fez parte da
programação de posse dos novos delegados sindicais.

A
presidenta do Sindicato, Jaqueline Mello,
explicou que o Sindicato dos Bancários de Pernambuco é pioneiro na
discussão do assédio moral. “Tentamos passar todo nosso acúmulo
na questão aos novos delegados sindicais, muitos deles eleitos pela
primeira vez. Também debatemos sobre este acordo com os bancos e, a
partir de agora, vamos intensificar o trabalho sobre este tema para
acabarmos de vez com o assédio moral sistemático que ocorre com os
bancários”, afirmou.

Para o secretário-geral da
Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo
Financeiro), Marcel Barros, o acordo garantido com muita luta pelos
bancários é uma grande conquista. Mas agora é preciso de um
trabalho de ação sindical para que o problema seja combatido. “O
acordo, por si só, não resolve o problema. Precisamos trabalhar
pesado, cobrando das empresas o combate efetivo do assédio moral,
que é um problema de gestão dos bancos e não de pessoas”,
disse.

A diretora do Sindicato, Suzineide Rodrigues, que
coordenou em 2002 um trabalho pioneiro sobre o assédio moral,
destacou que o acordo não é o desejado, mas carrega os princípios
que o Sindicato sempre trabalhou. “Aquela pesquisa que realizamos
em 2002 nos deu argumentos para conquistarmos na mesa de negociação
este acordo”, comentou.

O secretário de Saúde do
Sindicato, João Rufino, explicou para os delegados sindicais e para
todos os presentes como denunciar o assédio moral para que o
Sindicato possa agir. “Criamos um canal para receber as denúncias,
mas ao vivo é sempre melhor. Também criamos uma comissão aqui no
Sindicato para apurar as denúncias. Vamos tentar nos distanciar para
investigar todos os casos sem emoções, mas quero destacar que
nenhuma denúncia será descartada”, disse.

>> Clique aqui para
denunciar um caso de assédio moral.

Pioneirismo – Para
Regina Maciel, doutora em psicologia e professora da Universidade de
Fortaleza (Unifor), os bancários estão de parabéns pelo
pioneirismo deste acordo, ainda inédito no Brasil. Ela destacou que
as consequências do assédio moral para a saúde do trabalhador são
grandes.

“Há problemas psicopatológicos, psicossomáticos
e comportamentais. Conheço um bancário que chegou a pesar 35
quilos. A mulher o abandonou, ele foi internado e até agora não se
recuperou das consequências do assédio moral. Não é fácil sair
dessa”, disse.

Regina comentou sobre a pesquisa nacional
liderada pelo Sindicato de Pernambuco, onde 40% dos bancários
relataram que já sofreram humilhações no trabalho. Ela também
apresentou o projeto de prevenção e combate ao assédio moral da
administração pública do Estado do Ceará. “Projetos como este e
como o acordo conquistado pelos bancários ajudam a combater o
assédio moral, mas não resolvem. Ainda temos de lutar muito para
acabar com o problema”, afirmou.

Acima da média – O
auditor fiscal da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de
Pernambuco, Fernando Sampaio, comentou que a estrutura de organização
do trabalho nos bancos é propícia para gerar o assédio moral.
Fernando é ex-bancário do BNB e conhece bem os problemas
enfrentados pela categoria.

“Muitos trabalhadores sofrem com
o assédio moral, mas entre os bancários o problema é acima da
média. A estrutura dos bancos adoece seus funcionários e não
podemos ficar apenas resolvendo problemas pontuais. Temos de atacar a
questão de frente, pois o assédio gera muitos problemas de saúde”,
disse.

A visão dos bancos – Representantes do Banco do
Brasil e da Caixa Econômica Federal também participaram do
Seminário promovido pelo Sindicato. Eles contaram como suas
instituições financeiras tentam atacar o problema do assédio
moral.

Pela Caixa, a gerente regional de Gestão de Pessoas,
Shirlei Regueira, contou que o banco tem um código de ética que
deixa claro que o assédio moral é inaceitável. “Além disso,
temos várias áreas envolvidas no combate ao assédio, entre elas a
alta direção da Caixa, a diretoria de Gestão de Pessoas, a
ouvidoria, auditoria, jurídico e comunicação. Temos canais para
receber denúncias e mecanismos de avaliação e controle, além de
uma cartilha com orientações para os bancários”, explicou.

Pelo
Banco do Brasil, o gerente regional de Pessoal, Miguel Ângelo dos
Reis e Arruda, contou que a empresa tenta resolver o problema de
várias maneiras e, em último caso, há punições para os
agressores. “Todos os documentos internos, o estatuto e o código
de ética repudiam o assédio moral. Isso dá respaldo para agirmos,
inclusive nos comitês de ética. Também valorizamos a diversidade,
pois as mulheres, os negros, homossexuais e lesionados são as
maiores vitimas”, disse.

A presidenta do Sindicato,
Jaqueline Mello, comentou, após a fala dos representantes dos
bancos, que as instituições financeiras trabalham para resolver os
problemas pontuais, mas as causas do assédio moral não são
atacadas. “E quais são as causas? São a falta de pessoal, as
metas abusivas, o individualismo e a competição estimulada pelos
bancos. Esses são os problemas que precisam ser resolvidos para
combatermos, de fato, o assédio moral”, concluiu.

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