Texto
publicado na coluna Tendências / Debates do jornal Folha de S. Paulo,
edição de 20/02/2011
Há 90 anos, o Brasil era um país
oligárquico, em que a questão social não tinha qualquer relevância aos
olhos do poder público, que a tratava como questão de polícia.
O país vivia à sombra da herança histórica da escravidão, do preconceito
contra a mulher e da exclusão social, o que limitou, por muitas
décadas, seu pleno desenvolvimento.
Mesmo quando os grandes planos de desenvolvimento foram desenhados, a
questão social continuou como apêndice e a educação não conquistou lugar
estratégico.
Avançamos apenas nas décadas recentes, quando a sociedade decidiu firmar
o social como prioridade.
Contudo, o Brasil ainda é um país contraditório. Persistem graves
disparidades regionais e de renda. Setores pouco desenvolvidos coexistem
com atividades econômicas caracterizadas por enorme sofisticação
tecnológica. Mas os ganhos econômicos e sociais dos últimos anos estão
permitindo uma renovada confiança no futuro.
Enorme janela de oportunidade se abre para o Brasil. Já não parece uma
meta tão distante tornar-se um país economicamente rico e socialmente
justo. Mas existem ainda gigantescos desafios pela frente. E o
principal, na sociedade moderna, é o desafio da educação de qualidade,
da democratização do conhecimento e do desenvolvimento com respeito ao
meio ambiente.
Ao longo do século 21, todas as formas de distribuição do conhecimento
serão ainda mais complexas e rápidas do que hoje.
Como a tecnologia irá modificar o espaço físico das escolas? Quais serão
as ferramentas à disposição dos estudantes? Como será a relação
professor-aluno? São questões sem respostas claras.
Tenho certeza, no entanto, de que a figura-chave será a do educador, o
formador do cidadão da era do conhecimento.
Priorizar a educação implica consolidar valores universais de
democracia, de liberdade e de tolerância, garantindo oportunidade para
todos. Trata-se de uma construção social, de um pacto pelo futuro, em
que o conhecimento é e será o fator decisivo.
Existe uma relação direta entre a capacidade de uma sociedade processar
informações complexas e sua capacidade de produzir inovação e gerar
riqueza, qualificando sua relação com as demais nações.
No presente e no futuro, a geração de riqueza não poderá ser pautada
pela visão de curto prazo e pelo consumo desenfreado dos recursos
naturais. O uso inteligente da água e das terras agriculturáveis, o
respeito ao meio ambiente e o investimento em fontes de energia
renováveis devem ser condições intrínsecas do nosso crescimento
econômico. O desenvolvimento sustentável será um diferencial na relação
do Brasil com o mundo.
Noventa anos atrás, erramos como governantes e falhamos como nação.
Estamos fazendo as escolhas certas: o Brasil combina a redução efetiva
das desigualdades sociais com sua inserção como uma potência ambiental,
econômica e cultural.
Um país capaz de escolher seu rumo e de construir seu futuro com o
esforço e o talento de todos os seus cidadãos.