Lucros e demissões nos bancos

Entra ano, sai ano e os bancos continuam lucrando
muito no Brasil, com escassas contrapartidas sociais. Em 2009 não foi
diferente. Eles não foram atingidos pela crise financeira mundial,
ficaram ainda mais concentrados em grandes instituições, seguiram
praticando altas taxas de juros, tarifas abusivas e spread (a diferença
entre o custo de captação e de empréstimo do dinheiro) elevadíssimo e
cortaram empregos.

Os números apurados até o terceiro trimestre
antecipam nova safra de ganhos astronômicos. Os cinco maiores bancos
acumularam lucro líquido de R$ 22,1 bilhões, a maior rentabilidade da
economia brasileira. No mesmo período, entretanto, eles fecharam 2.076
postos de trabalho, segundo levantamento trimestral elaborado pela
Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT)
e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (Dieese).

Os bancos desligaram 22.803 bancários e
contrataram 20.727. É uma inversão do que ocorreu nos primeiros nove
meses do ano passado, quando houve um aumento de 14.366 vagas (44.614
contratações e 30.248 dispensas). O estudo toma por base dados do
Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do
Trabalho e Emprego.

Os dados do Caged não permitem separar as
contratações e desligamentos por instituição, mas apenas por segmento do
sistema financeiro: bancos comerciais, bancos múltiplos, bancos de
investimentos e caixas econômicas. Como neste último segmento só existe a
Caixa Econômica Federal, que abriu só no primeiro semestre um total de
3.172 empregos, e não tem havido demissões no Banco do Brasil e outros
bancos públicos, a conclusão é de que o fechamento de vagas está mesmo
concentrado nos bancos privados, principalmente por causa dos processos
de fusão do Itaú Unibanco e do Santander e Real, ainda em andamento.

Os bancos andam, portanto, na contramão do
movimento que a economia brasileira está trilhando. Enquanto os demais
setores criaram 932 mil postos de trabalho de janeiro a setembro com a
retomada do crescimento, os bancos, que não sofreram nenhum impacto com a
crise, fazem o contrário, revelando que responsabilidade social virou
apenas peça de marketing.

A pesquisa mostra ainda que os bancos usam a
rotatividade para reduzir a média salarial dos trabalhadores – a
remuneração média dos admitidos é 41,28% inferior à dos desligados. Além
disso, eles mantêm a discriminação em relação às mulheres, que estão
sendo contratadas com salários 30,21% inferiores aos dos homens.

Além de impactar os trabalhadores, essa
política dos bancos é nociva também a toda a economia brasileira, uma
vez que cobra os mais altos juros e spread do planeta. Os bancos
estrangeiros abusam dos clientes brasileiros, ao contrário do que fazem
em seus países de origem. O Santander cobra 10,81% de taxa anual de
juros total sobre empréstimos pessoais na Espanha, e 55,74% no Brasil.
Na mesma modalidade de empréstimo, o HSBC cobra taxa de 6,60% no Reino
Unido e 63,42% no Brasil.

Por isso, os trabalhadores seguirão defendendo
em 2010 a regulamentação do sistema financeiro, visando definir
funções, estabelecer controles, baratear o crédito e estimular a
produção para a geração de empregos e o desenvolvimento. Também cabe aos
bancos abrir mais agências ao invés de correspondentes, investir mais
em segurança para evitar assaltos e sequestros e, sobretudo, contratar
mais funcionários para acabar com as filas e melhorar o atendimento dos
clientes. A sociedade brasileira precisa exigir a contrapartida social
dos bancos.

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